Usuários de abrigos de Santos estariam recebendo menos comida



Não aguentando mais a pressão, supostos equívocos técnicos-conceituais e até desmandos dos últimos meses, funcionários da Secretaria de Desenvolvimento Social de Santos resolveram, sob a promessa de sigilo de identidade, denunciar o secretário Elias Júnior, que comanda a pasta na segunda gestão do prefeito Rogério Santos (Republicanos).

Durante a campanha à reeleição, Santos prometeu corrigir falhas e transformar a área em modelo regional por conta da quantidade de reclamações e problemas nos últimos anos.     
      
As denúncias começam pelo queda no atendimento dado às pessoas em situação de rua, segmento mais sensível da pasta. 

“Os almoços e jantares nos abrigos foram diminuídos consideravelmente. Muitos usuários estão comendo de forma inadequada causando grande indignação, inclusive de servidores”, afirmam funcionários em um texto feito por várias mãos e enviado à Reportagem.     

Ainda relativo às questão, a Secretaria, com apoio de outras, estaria fomentando a retirada de pessoas em situação de rua, principalmente em bairros considerados privilegiados – Gonzaga, Boqueirão, Vila Rica e Ponta da Praia – e provavelmente recambiando para bairros mais simples, geralmente próximos do centro da Cidade. 

Equipamentos 

As questões denunciadas também envolvem equipes e os equipamentos públicos. Segundo os funcionários, o novo imóvel do Centro de Referência Especializados da Assistência Social (CREAS) da Zona Leste precisaria ser entregue até o final deste mês. 

Já havia até um processo de locação em andamento, mas Júnior mandou paralisar o trâmite interno.   
 
“Corre-se o risco do CREAS ficar sem sede. Com a mobilização dos trabalhadores e vereadora Débora Camilo (PSOL), foi feita uma negociação para permanência da equipe na sede atual até meio do ano, porém ainda não há definição de novo local”. 

Outro equívoco seria o de levar o Centro Dia para Idosos para um imóvel da Lavanderia Comunitária Oito de Março, que trabalha com máquinas profissionais barulhentas. O argumento seria economicidade, esquecendo-se da questão técnica e de saúde dos idosos. 

“O imóvel locado para o Centro Dia, na Avenida Afonso Pena, passou por diversas manutenções e intervenções para ser adequado ao serviço e estava em vias de ser ocupado pela equipe. O secretário decidiu entregar o imóvel e juntar equipes. O imóvel da lavanderia, ao lado do Fórum, é uma das locações mais caras da Secretaria e tinha sido locado para uma única finalidade. A solução para ele foi colocar dois serviços completamente diferentes juntos. Os usuários pouco importam”, desabafam no texto.  

Segundo informam os funcionários, está se pensando em entregar o imóvel onde está o abrigo sigiloso para mulheres vítimas de violência, transferindo a equipe para os outros serviços, por considerar a locação cara. Esse serviço estaria sob a iminência de fechar. 

Além disso, migrar a sede administrativa das repúblicas para idosos e jovens para o Núcleo de Atendimento Integrado (NAI), que atende também adolescentes infratores.

“O espaço do NAI possui salas com rachaduras e infiltrações graves que nem estão sendo utilizadas por conta disso. As equipes da ambos são contrárias à possível mudança e junção e apresentou todas as justificativas, mas também não foram ouvidas”.

Tem mais

O secretário teria decidido transferir a Seção de Capacitação dos Funcionários da rede Socioassistencial (SECAFUR) para dentro do gabinete, numa sala que não comporta todos, sem ouvir e dialogar com a equipe.

“E ainda decidiu pela não continuidade do planejamento de abertura da escola da Secretaria de Desenvolvimento Social (SUAS), espaço extremamente importante de educação permanente e formação de profissionais, inclusive entregando o prédio que havia sido pensado para isso”.

Por fim

Teria determinado o não pagamento das horas extras para além das 20 horas aos servidores que estão fazendo plantão nos abrigos abertos 24 horas, sugerindo banco de horas. 

“Após a entrega da parceria de dois convênios, pela entidade responsável, foi decidido manter os serviços por hora extra para não diminuir 74 vagas de acolhimento para o Pop Rua, o que traria grande impacto para os usuários e gestão, já que essas vagas estão preenchidas”. 

Portal

A Reportagem consultou o site da Prefeitura de Santos para saber a formação de Elias Júnior e não foi encontrada nenhuma referência na área de ação social. Se não estiver desatualizado, Júnior é advogado e pós-graduado em Direito do Trabalho Portuário. Atualmente, também ocupa posição na Diretoria estadual do CIESP.

Liderou movimentos associativistas empresariais, sendo o primeiro Coordenador do Núcleo de Jovens da Associação Comercial de Santos. Foi também coordenador na FACESP- Jovem e Conselheiro na CONAJE e diretor de ações regionais e membro do Conselho de Relações do Trabalho da FIESP. 

Presidiu o CAMPS Santos, instituição que capacita e encaminha jovens ao mercado de trabalho. Por fim, como secretário de Assuntos Portuários e Emprego de Santos.

Prefeitura

A Secretaria informa que Elias Júnior tem realizado visitas aos equipamentos com o compromisso de aprimorar e expandir os serviços oferecidos à população. Reforça que não há intenção de fechar serviços, mas sim de qualificar os espaços e otimizar os recursos disponíveis para melhor atender servidores e beneficiários.

Quanto às refeições, explica que estão sendo feitos ajustes de acordo com a equipe técnica a fim de alinhar a alimentação ao recomendado, evitando o desperdício. 

Sobre o pagamento das horas extras, está sendo realizado conforme determinado na legislação vigente. O recâmbio qualificado refere-se exclusivamente ao retorno assistido de pessoas em situação de rua para suas cidades de origem. Não há qualquer política de recâmbio entre bairros.
 



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